terça-feira, 21 de maio de 2013

Mulheres-Mães

        Ao iniciar a série de artigos que me propus a escrever neste blog, revisitei alguns trabalhos antigos e, mutatis mutandis, substituí algumas palavras por considerá-las em desuso para o momento. Aproveitei, também, a ocasião em que se homenageiam as mulheres em seu dia das mães, para brindá-las, assim como aos demais leitores, com o texto abaixo, publicado originalmente no Jornal da Paraíba, em sua edição de 14.05.2000.

Mulheres-Mães
Perácio Bezerra

       Há, na cultura judaica, a consciência de que Deus conta as lágrimas das mulheres.
       Verdade inconteste, na realidade não há na vasta obra da criação divina um ser mais puro, mais sublime e mais bonito do que a mulher, e, para que se perceba isto, não é preciso que o seu rosto esteja ungido em lágrimas.
       Essas lágrimas que a emolduram, emoldurando assim a sua beleza, podem ser de tristeza, de angústia, de solidão, de inquietação, de ansiedade, de alegria, de paz, de espera e de amor. Nunca de ódio.
       A história tem se encarregado de dedicar a essas mulheres uma face particularmente triste e desigual do seu longo e interminável curso. Mire-se nos exemplos do que ocorre em determinadas culturas, em que às mulheres não é permitido, sequer, mostrar o rosto, ou em outras culturas em que se lhes mutila a genitália para que assim não tenham prazer sexual, ficando relegadas à função meramente reprodutora, ou ainda, na nossa própria cultura, em que às mulheres não era dado, há até bem pouco tempo, o direito de votar.
       Mas não é só isso. Há toda uma série incontestável de discriminações, que passam pela violência sexual em suas diversas formas, agressões físicas as mais grotescas e, a pior de todas elas, a agressão psicológica, que anula qualquer valor que uma mulher possa ter, e que são muitos.
       Há um tipo de agressão particularmente deplorável, aquela que se pratica entre quatro paredes, sendo muito comum aquelas de natureza sexual praticadas pelos cônjuges ou companheiros que, muitas vezes, sem respeitar aspectos íntimos da mulher, forçam-nas a ter relações íntimas em ocasiões em que as mesmas, até por problemas hormonais, não estão acessíveis ou receptivas, transformando aquilo que poderia ser mágico e bonito num ato repugnante e animalesco.
       Mas há, também, a parte agradável desta mesma história. É que não fossem tantos predicados e eis que a essa maravilhosa criação divina ainda foi concedido o privilégio da maternidade, sendo-lhe dado conceber, gerar, parir, amamentar (fenômeno particularmente belo) e educar um filho para, finalmente, com amor e a resignação somente próprios às mulheres, vê-lo partir, pois que o criou para o mundo.
    Mais uma vez estamos diante de uma atribuição fantástica: ser mãe. E não somente aquelas mães biológicas, mas as adotivas, as estéreis, as mutiladas, enfim, pois todas elas, indistintamente, nasceram com a intuição e o instinto maternal, fato que se observa até mesmo na infância, pois parece até que há um aprendizado natural, como se já existisse, na cabeça de cada menina, a pergunta: como é que se aprende a ser mãe?
      A propósito, nos ensina o ilustre professor Angelo Gaiarsa: “Como é que se aprende a ser mãe? Em primeiro lugar, convencendo-se de que nunca foi e de que pouco sabe a respeito. Dispondo-se, isto sim, a aprender a ser mãe – ao contrário de tudo o que lhe foi dito até o momento. Uma mãe aprende a ser mãe principalmente através do contato físico com a criança, nas horas de tê-la no colo, de tê-la junto, de banhá-la, de limpá-la, de alimentá-la. Mas, sobretudo, quando a tem nos braços ou junto de si. É aí, é então e é assim que mil gestos, mil modos de pegar, mil movimentos da criança, mil olhares soltos começam a tecer a trama sutil que une essas duas criaturas que viveram em simbiose durante nove meses. Essa simbiose continuará durante um certo tempo. Um tempo muito menor do que nós acreditamos, mas um tempo ainda bastante dilatado.”
      O privilégio da maternidade em todos os seus aspectos, é, pois, o que torna as mulheres diferentes e especiais, além de particularmente belas. 
      Temos, pois, o dever de preservá-las, respeitá-las, amá-las e admirá-las e só assim estaremos reparando uma partícula infinitesimal de todas as injustiças contra elas cometidas ao longo de toda nossa existência, e não só nos dias oito de março ou nos segundos domingos de maio, mas em todos os dias de todos os anos.
      Parabéns, mulheres-mães.